Alguma dúvida de que o Brasil está em crise? Reformulando a pergunta: o Brasil está atravessando mais uma crise? Sim, atravessamos uma crise. Tem-se dito que opaís atravessa uma fase crítica --- talvez das mais graves por que já passou--- que atingiu seriamente nas suas manifestações todos os setores da vida social, espiritual e intelectual.
Estamos evidentemente numa crise, mas toda crise tem um ponto de chegada e outro de partida. Será que a sociedade brasileira encontrará respostas adequadas aos novos desafios que foram ou ainda virão a ser lançados? São graves e complexos os problemas que essas mudanças sociais e econômicas levantaram em todos os setores. Estaremos em situação muito difícil se não pudermos confiar na geração de homens maduros e sobretudo nas gerações mais jovens. Será que a mocidade em geral está mais ou menos lúcida da pesada herança que vai receber? Afinal de contas, já era tempo de se aparelhar para aparar os golpes, uma vez que há quatro anos estávamos atolados num redemoinho de corrupção, de dinheiro desviado para outros países, de prisões decretadas e, logo em seguida, anuladas.
Nunca se viu tanta mala cheia de dinheiro, de quartos alugados somente para guardar o saque aos cofres públicos,de dinheiro escondido até em cuecas, de estratagemas os mais inventivos para escapar de punições tíbias e pouco duradouras, contrariando o mantra de que não existe crime que não seja descoberto e não seja punido. Pois aqui, o ramerrão criou uma outra visão das coisas: a maioria dos golpes foram descobertos,ensaiou-se uma punição para eles, mas logo a "justiça" foi encontrando brechas para amortizar as penas e apelar para uma tal de "delação premiada". Em que consistia essa joia jurídica? A explicação que vamos passar ao leitor foi dada por um desses calhordas travestido de sorridente criminoso: "delação premiada" é assim, você confessa o crime, quanto conseguiu saquear, a "justiça" retoma metade da quantia saqueada e você fica com a outra metade!
É assim que funciona. Saqueiam, metem a mão no dinheiro dos impostos que nós pagamos, enchem-se de dinheiro e a história termina aí. O problema que se impõe a cada um não é saber o que é preciso fazer, se é preciso fazer alguma coisa e o que, ou nada fazer e deixar fazer? A tendência que infelizmente se observa é o ceticismo displicente, aausência, a neutralidade ou a não participação. Vai aumentando o número de pessoas que lavam as mãos como Pôncio Pilatos, que tende a tornar-se o padrão de um época sombria, dilacerada pelos interesses de um egoísmo feroz e pelas investidas de paixões sem freio. A massa dos cidadãos de clina de toda responsabilidade.
Dessa massa apática, os que leem jornais e veem tv --- dominados pelo desejo de informação --- contentam-se apenas com palavras e como são elas tendenciosas, então, deixam-se dominar, como o asno de Buridan que não chegava a escolher entre o balde de água e a medida decevada... Têm horror à responsabilidade e são adeptos do pilatismo.
Não poderia faltar a indagação final: haverá tempo de armarem-se os estudantes --- e todos o somos apesar da diferença de idade --- com ideias precisas da crise pela qual estamos vivendo, para uma vida de liberdade, justiça e verdade? Ficamos com Walther Rathenau, segundo o qual para alcançarmos este resultado "que nossos pés nunca percam o contacto com a terra firme e nossos olhos nunca percam de vista as estrelas."
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP